Sim, espero que encontrem logo a convivência pacífica, a harmonia e o respeito mútuo, que pessoas deixem de matar outras pessoas e que consigam viver sem conflitos.
Utopia? Que seja, mas continuo torcendo para que aconteça, não é?
Tenho especial interesse nas questões que envolvem aquele pedaço de terra que também compreende Israel porque tenho amigos muito caros que lá vivem. Mais precisamente, o Michael e Monica, com seus três filhos adolescentes. Estudantes comigo na época em que freqüentávamos o High School nos Estados Unidos, formávamos um grupo unido e com aspectos comuns: éramos estrangeiros em nosso continente pois não éramos "Americans" mas sim "Brazilians" e "Uruguayans"; vivíamos em países da pobre América Latina onde, acreditavam eles, cobras e sapos dividiam camas e mesas com a gente; éramos mais pobres ainda porque existiam programas tais como o "Aliança para o progresso" que mandavam (delicioso, por sinal) leite-em-pó e "nos ensinavam que
aquele pó devia ser diluído com água" enquanto estudávamos Mallarmé, Goethe, Williams e também, entre tantos outros e para sus-
to deles, Shakespeare; éramos parte de países que estavam sob regimes ditatoriais "sem que eles soubessem a razão" (inclusive
no que diz respeito ao Chile, aquele lindo país comprido que serviu para Sissy Spacek e Jack Lemmon desempenharem seus brilhantes papéis no cinema anos mais tarde, em "Missing") e nossos pais, sabiamente, nos "deportaram para a matriz" porque corríamos, aqui, riscos até de vida e por aí vai, porque são muitas outras histórias... Casaram-se um dia, a Monica e o Michael, ambos judeus, mas mudaram-se para uma pitoresca e aprazível localidade não muito distante da cidade de Tel-Aviv. Engenheiro, o Michael construiu uma brilhante carreira em Israel. A Monica também tornou-se alguém proeminente em sua profissão e eles tiveram três belos filhos: um rapaz e duas moças, todos agora entre 15 e 23 anos.
São judeus e são pessoas de bom coração e de paz. São amigos de pessoas de todos os credos, de todas as raças... Mas a guerra está ali, à volta... As injustiças, as perdas, os dramas individuais e os coletivos, alguns calados e outros exacerbados por erros e por fanatismos.
Só peço a Deus que os proteja. Que a Monica não se assuste se um de seus filhos demorar um pouco mais a chegar em casa; que
o Michael jamais entre na estrada ou na rodovia errada; que a falta de sorte jamais os atinja.
Em Jerusalém, tem a Samira e tem o Habte, ambos palestinos, que também são nossos amigos e que estudaram conosco. Eles
também têm filhos, a Samira e o seu esposo e o Habte com a sua esposa.
Deve ser terrível para eles todos encontrarem-se na casa da Hanna, em Haifa.
É uma guerra atroz, como qualquer guerra. Que Deus os proteja; a todos, sem distinção, e que possamos nos reencontrar, em paz,
como agora o Michael encontrará a Carine (Bruxelas, Bélgica) já no sul da França, a caminho da Grécia. Eles passarão por Turim, Itália, por causa do Piero e irão para Tessalônica, onde mora a Marina. Irão juntos, de carro, para o casamento do filho da Marina.
Como vê, minha amiga, estudamos todos, juntos, nos Estados Unidos, e retornamos aos nossos países por volta do ano de 1967.
De lá para cá, alguns de nós já se tornaram até mesmo avós e continuamos amigos, e mantemos contato, e nos visitamos quando possível, e acolhemos os filhos emprestados, e rimos e choramos com as lembranças e somos judeus, palestinos, mulçumanos, budistas, alguns ateus, etc.
Por mais utópico que possa parecer, chegará o dia em que não se guerreará e não mais me assustarei porque, ao ligar a TV, não haverá notícia de bomba que explodiu em Tel-Aviv, que é logo ali, ao lado de uma deliciosa e aprazível cidade, onde vive um irmão meu uruguaio-judeu e sua bela família, todos pessoas lindas, pessoas de incomensurável paz. Também, nada acontecerá de semelhante em Jerusalém ou em Haifa e Hanna, Samira e Habte estarão em paz, ainda e sempre amigos (como nos prometemos, lá na "outra América", nos tempos de adolescentes), tranqüilos e com seus familiares.
Shalom! Salam! Paz! Pace! De la paix! Ruhe! Peace! Paz! etc.
Como diz uma bela música brasileira ("A noite do meu bem", de Dolores Duran e Antônio Maria) em um de seus magníficos versos:
"...
Hoje, eu quero paz de criança dormindo
e o abandono de flores se abrindo
para enfeitar a noite do meu bem..."
e sempre.
José P. di Cavalcanti Jr.--
Observação importante: os sobrenomes e referências pessoais foram omitidos de modo a preservar a identidade das pessoas, pois elas existem e vivem em área de conflito.