-- Eu também tenho medo --
(a propósito da declaração de Regina Duarte na propaganda eleitoral gratuita de José Serra)
Eu, cidadã comum, sem espaço na mídia ou projeção nacional, confesso: tenho medo.
Medo de que as coisas continuem como estão;
medo de que os funcionários públicos continuem sem reajuste salarial por mais 4 anos;
de que minhas filhas, quase formandas, não encontrem espaço no mercado de trabalho e só vislumbrem possibilidades de especializações fora do Brasil;
que minha mãe, aos 75 anos, continue a depender do falido sistema de saúde pública;
que outros idosos, como ela, continuem a perceber só 1 salário mínimo de aposentadoria, depois de mais de 30 anos de contribuições à Previdência Social;
que meus sobrinhos tenham de cursar um ensino público sucateado;
que a comida continue faltando na mesa de milhões de brasileiros, se mesa inda houver;
que eu não consiga mais ver crianças na rua, só possíveis/prováveis/futuros delinqüentes;
que o verão que se aproxima traga mais mortes pelo dengue.
Tenho medo, muitos medos.
Mas o medo maior é que, com o continuísmo, eu só perceba a desesperança nos olhos do meu semelhante.
Ou, pior que a desesperança, a indiferença.
Ivy Wyler
15/out/2002