Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê! Dorme, que a vida é nada! Dorme, que tudo é vão!
Se alguém achou a estrada, achou-a em confusão, com a alma enganada.
Não há lugar nem dia para quem quer achar, nem paz nem alegria para quem, por amar, em quem ama confia.
Melhor entre onde os ramos tecem dosséis sem ser, ficar como ficamos, sem pensar nem querer, dando o que nunca damos.
Onda que, enrolada, tornas, pequena, ao mar que te trouxe e ao recuar te trantornas como se o mar nada fosse, por que é que levas contigo só a tua cessação, e, ao voltar ao mar antigo, não levas meu coração?
Há tanto tempo que o tenho que me pesa de o sentir. Leva–o no som sem tamanho com que te oiço fugir!
Ouça: [ 56kb ] - necessário Windows Media (Interpretação livre de Antônio Abujamra)